sábado, 1 de maio de 2010


Festa Infinita, uma passeada por festas e festivais de trance psicodélico pelo Brasil.

O livro foi lançado dia 4 de abril de 2009.
Em Festa Infinita, o leitor é convida¬do a um mergulho no barulhento, colorido e entorpecente mundo das raves, festas de música eletrônica, ao ar livre, com duração de mais de 24 horas. Logo no primeiro capítulo, numa narrativa dinâmica e precisa, é possível presenciar uma rave do começo ao fim, com toda a intensidade da música, com a efervescên¬cia das drogas sintéticas e com garotos que se penduram pela pele em bizarras e angustiantes performances masoquista
Apesar de não ser um trabalho de profunda pesquisa, pois em um ano não há possibilidade de desvendar a cultura trance, o autor consegue distinguir os vários grupos que participam da cena, chegando a entender a força cultural do movimento e os modismos modernos que transformam modalidades artísticas em kitsch de fácil degustação (e venda) para públicos que não dão valor a história e conceitos e acabam vagando pelas bordas das manifestações culturais contemporâneas.
Ou seja, Tomás viajou mais de 30 horas de ônibus até o interior de Goiás para conhecer no máximo 40 participantes de uma festa que recebe 8 mil pessoas. Cadê a visão de quem foi de carro, de avião, de carona ou mesmo a pé (acreditem, tem gente que vai a pé). Passou 20 dias com a produção e não conheceu a fundo ninguém, pois até onde sei não tem um produtor da festa em questão que saiba, de fato, quem ele é. Recolheu informações sorrateiramente e ainda conseguiu distorcê-las. No final de 2008, viajou a uma praia deser¬ta no sul da Bahia, onde acompanhou a montagem do Universo Paralello, festa que atraiu 9 mil pessoas para dez dias de festa. Finalmente, para retratar esse universo da forma mais in¬tensa e realista possível. E o pior (ou mais engraçado, já nem sei mais), tomou ecstasy porque quis, jornal nenhum do mundo pediria ou o obrigaria seu funcionário a tomar algo para conceder maior verdade à matéria. O resultado desse processo de imersão é um texto fluido e instigante, que mexe com os sentidos, que expõe o hedonismo descompromissado de parte da juventu¬de atual e que documenta um lado da história contemporânea desconhecida para a maior parte da população.
A partir daí, o autor cria um panora¬ma desse movimento contra cultural, que apenas no Brasil atrai cerca de 500 mil jovens por mês. No ano de 2007 foram 1.400 festas, promovidas em sítios, praias desertas e clareiras no meio do cerrado. Raves que chegam a reunir mais de 30 mil pessoas.
Para dar contornos a este universo, o repórter entrevistou inúmeros DJs, produ¬tores e aficionados, criando uma trama de perfis que, por meio de casos curiosos, di¬vertidos e até dramáticos, ilustram a histó¬ria das raves no Brasil e no mundo. Usando técnicas de imersão próprias do jornalismo literário, o autor conviveu intensamente com seus personagens, acompanhou DJs em assustadoras viagens noturnas e em noites de música sem parar.
Tomás Chiaverini nos oferece um relato preciso, sensível, humano e cuidadosamente detalhado, ao vivo e em cores, sobre o que acontece nessas festas, que enlouquecem não só quem delas participa, mas também os pais e os vizinhos. Mais do que isso, o trabalho do autor, sempre baseado em fatos concretos e pesquisas em profundidade, cumpre com competência a missão de lançar um brado de alerta sobre a preocupante realidade desse ‘entorpecente mundo’, no qual mergulham de cabeça, quase todos os dias, muitos milhares de jovens em busca de novas e perigosas – ”experiências”.
Eu poderia começar respondendo que na Europa, a música eletrônica e as raves estão muito ligados com movimentos culturais, ecológicos, anti-consumismo e direitos civis. E que na Inglaterra, devido às leis anti-rave que o governo passou, o ato de ir numa rave ganhou conotação política instantânea. Tudo isso está certo, mas o buraco aqui é mais embaixo. Dizem que milhares de pessoas dançando música eletrônica num sítio é mais um sintoma de juventude despolitizada e desinteressada. Quanto ao politizado, é uma questão de conceito.
Existe uma visão tradicional que acha que para ser político, qualquer coisa tem que envolver manifesto escrito, panfletos, discurso e gente num palanque falando, isto é, veículos de idéias convencionais. Eu acho que o fato de a rave promover idéias (sem falatórios, simplesmente deixando a coisa rolar assim) como a tolerância e aceitação mútua entre diferentes classes, idades, raças, opções sexuais e estilos de vestir já é mais forte do que qualquer discurso. Machismo, homofobia, racismo, preconceitos em geral são mal vistos. Em qual outra cena isto é tão evidente? Eu desconheço. Entretanto, a rave em uma de suas características mais marcantes a não-violência, o pacifismo e a ausência de tensão e agressividade. Em algumas tribos ou cenas é bacana usar jaqueta de couro. Nas raves é bacana dançar em vez de brigar. Essa idéia e esse sentimento que se passa entre as pessoas é mais eficaz que mil panfletos. Para mim é evidente a irrelevância da publicação e imaturidade do autor, tanto pessoal quanto profissional. Falo isso com a qualidade de quem viu de perto o trabalho de Tomás e também como profissional de jornalismo. Não conheço, nem nunca ouvi falar, uma única escola de jornalismo no mundo que ensine a seus alunos que para ser um bom profissional, sério e competente, o jornalista precise viver o que vivem seus entrevistados. Se fosse assim seria essa a profissão mais injusta de todas, um verdadeiro terror.

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